Curiosidades sobre a Regra de Santa Clara

Curiosidades sobre a Regra de Santa Clara

Ao fugir de casa e se consagrar a Deus na igrejinha da Porciúncula Santa Clara assumia o carisma franciscano na sua espiritualidade. Logo as irmãs de sangue, primas e amigas influenciadas por seu testemunho uniram-se a ela. Assim que chegaram a São Damião (1212) receberam as orientações de São Francisco para reger seu cotidiano comunitário como Forma de Vida, tornando-se Irmãs Pobres.

Quatro anos depois, em 1216, o Concílio de Latrão estabeleceu que todos os novos institutos deviam se adaptar às Regras antigas e todas tiveram que professar a Regra de São Bento. Nesse período Clara pediu, e obteve, o seu primeiro Privilégio da Pobreza, isto é, viver sem propriedade. É desse modo que ela consegue assegurar sua pertença ao carisma franciscano, pois sem Regra própria fica a mercê das autoridades eclesiásticas. 

Dada a resistência, em 1219 o cardeal Hugolino criou adaptações na Regra beneditina e lançou sua própria Forma de Vida com aquilo que julgava ser o melhor para a vivência monástica em São Damião e nas comunidades que o seguiam, mas ignorava a ligação de Santa Clara com São Francisco e seus ensinamentos sobre a pobreza e a vida fraterna, as bases da sua espiritualidade. Novamente houve pouca aceitação. 

A Ordem dos Frades Menores conseguiu aprovação definitiva de sua Regra em 1223, o que provavelmente facilitou a reelaboração das primeiras orientações que a Santa recebeu de seu estimado pai fundador. Mas a grande alegria veio parcial em 1247 quando o Papa Inocêncio IV suspendeu  a observância da Regra de São Bento e permitiu que Clara e suas Irmãs professassem a Regra de São Francisco, já falecido há vinte e um anos, em reconhecida santidade.  

Mas o contentamento não foi completo porque o próprio papa Inocêncio IV promulgou essa determinação em uma nova Regra (que levava seu nome), para as Damianitas, como eram conhecidas, e dava determinações quanto a vida comunitária (silêncio, vestes, penitências, ...) contrárias ao querer de Santa Clara como se verá na sua Forma de Vida mais tarde. 

Foi em razão da resistência de alguns mosteiros que Hugolino declarou em 1250, na bula Inter Personas, que não queria obrigar o seguimento de sua Regra, que continha muitos 'traços' cistercienses. Então Clara, que queria viver a espiritualidade segundo as inspirações que ela e Francisco tinham recebido de Deus, logo apresentou a sua própria Regra.

Forma de Vida (Regra) de Santa Clara
Forma de Vida (Regra) de Santa Clara: documento original (Basílica de Santa Clara/Assis)

Muitas mulheres se destacaram na Idade Média por sua inteligência e santidade, mas nenhuma escreveu uma Regra, como Santa Clara; nenhuma foi tão ousada como ela. Era o registro carismático da pobreza e da fraternidade de uma longa experiência de vida comunitária e contemplativa do grande ideal franciscano. Clara uniu a sua vivência original a tudo que considerou útil da Regra de São Francisco, da de São Bento, com a do Papa Hugolino e a de Inocêncio IV. 

Todo modo de viver exige uma regra, pois o ser humano precisa de delimitações para garantir sua identidade, mas não algo que sirva apenas como norma ou limite. Santa Clara, assim como São Francisco, tem em vista não um documento censurador de atos e palavras mas um documento aceito pela Igreja com objetivos a serem alcançados para viver em profundidade a inspiração recebida. Algo que serve como baliza para não haver desvio no caminho já traçado.

Como os mosteiros eram independentes entre si e uma vida em pobreza, sem propriedades, era considerada demasiada exigente, a Regra de Santa Clara foi aprovada somente para São Damião. Embora mais de cem mosteiros tenham aderido à sua Ordem (cerca de cento e cinquenta em toda a Europa até 1253), mesmo seguindo sua Forma de Vida poucos a acolheram integralmente. A maioria queria dispor de seus bens materiais conforme suas necessidades. 

Seis anos após a morte da Santa, em 1259, já surgia a Regra de Isabel de Longchamp, irmã do rei São Luís de França, escrita com a colaboração de muitos teólogos, inclusive do franciscano São Boaventura, amplamente aceita na França e na Inglaterra, que em muitos aspectos era menos exigente em relação à vivência da pobreza comparando-se com a Regra de Santa Clara.

O curioso é que havia sempre um renovado desejo de mudar a Forma de Vida instituída por Clara para si e suas Irmãs, assim dez anos após sua passagem para a eternidade o Papa Urbano IV apresentou uma nova Regra para aquelas que denominou "Clarissas" e de todo o mundo, recebendo o nome de Regra Segunda. Não conseguiu a unanimidade pretendida, mas por permitir propriedade foi amplamente aceita. Fazia assim cair por terra o "Privilégio da Pobreza".

No fim do século XV com mais de quinze mil clarissas no mundo, muito da originalidade de Santa Clara já havia se perdido, nesse período a Regra Primeira ganhou novo vigor com a reforma iniciada por Santa Coleta de Córbia (Corbie) e também pela fundação das Clarissas Capuchinhas, fundadas em 1535 pela beata Maria Lourença Longo. Muito se tinha na tradição oral, mas não se sabia o que havia sido feito com o texto original da Forma de Vida de Santa Clara.   

Havia muitas incertezas sobre o texto completo, até que, inesperadamente, em 1893, foi encontrado um baú no mosteiro de São Damião (enterrado), com as roupas de Santa Clara juntamente com o pergaminho original que traz a aprovação do Papa Inocêncio III da Regra da Santa, com a data de 9 de agosto de 1253. A caligrafia não é dela mas de algum secretário da Cúria Romana, além de duas pequenas anotações do Sumo Pontífice    

Atualizada em 19/04/2024.

                                         

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