O rosto de Santa Clara

 Face em cera (centro) feita a partir das medidas do crânio (Basílica Santa Clara/Assis)

A vida de pobreza e simplicidade vivida pelas Irmãs Pobres não permitiu o cuidado de fazer registro da fisionomia de sua fundadora. Santa Clara, dado o carisma e o período em que viveu, é de um semblante desconhecido. São os testemunhos daqueles que conviveram com ela que nos permitem saber sobre seu aspecto físico. Também seus restos mortais nos dão uma idéia aproximativa do seu rosto, dado o avanço dos recursos tecnológicos, além da cor dos seus cabelos (Foto1 - relicário acima).

Sem interesse pelos atrativos do mundo, nem buscando o amor de sua vida entre os rapazes de Assis, Clara procurava ocultar o seu rosto, evitando a proximidade com as janelas e as ocasiões festivas. Movida por um forte anseio espiritual de crescimento na intimidade com o divino, desde muito jovem optou por uma vida reclusa, resguardando-se assim de qualquer contato com as superfluidades decorrentes de sua condição social: a nobreza.

Tida por boa candidata a um rico matrimônio, e prudente nas suas relações, "ficava escondida, porque não queria ser vista, de maneira que os que passavam na frente da sua casa não a enxergavam" (1) e "ninguém conseguiu jamais convencê-la a aproximar seu ânimo das coisas mundanas" (2), pois "começou muito cedo a cuidar das obras da santidade" (3). Escolhera uma vida de penitência, isto é, totalmente voltada para Deus e, sempre empenhada em viver segundo o Evangelho.
 
Desde menina Clara anseia por crescer no amor a Jesus e conformar sua vida a Ele; "sendo ela bonita de rosto (...) muitos de seus parentes pediam-lhe que consentisse  em casar-se, mas ela nunca quis saber, (...) não queria nem ouvir. Antes, era ela que lhe pregava sobre o desprezo do mundo" (4).  E "ao ouvir que São Francisco tinha escolhido o caminho da pobreza, propôs em seu coração fazer também ela a mesma coisa" (5)

Quando aos dezoito anos Clara foge de casa para concretizar seu ideal de vida sua face se torna mais visível, pois já separada do mundo quanto ao corpo (vive enclausurada), faz-se servidora do Reino acolhendo os enfermos e aflitos que se dirigem a São Damião em busca de sua bênção e intercessão. Por sua vida orante logo sua fama de santidade cruza as fronteiras de Assis e Santa Clara atende a todos; traçando-lhes o sinal da cruz alcança muitas graças. 

"(...) era de honestíssimo comportamento, graciosa e bondosa para com todos. E, como São Francisco foi o primeiro da Ordem dos frades menores, tendo começado e organizado essa Ordem, assim a santa virgem Clara, por vontade de Deus, foi a primeira  da Ordem das mulheres reclusas. E governou a Ordem com toda a santidade e bondade, como se vê e é testemunhado pela opinião pública" (ProcC). 

A beleza do espírito transcende a matéria, a vida iluminada pela íntima comunhão com a Trindade fez de Santa Clara uma contemplativa sempre ativa no amor, no estar a serviço de suas Irmãs e de todos que a procuravam. Mesmo estando no recolhimento de um mosteiro tornou-se popular, muitos desejavam conhecê-la (esse foi um dos anseios de Santa Inês de Praga, que se correspondia com ela) e seguiam seu exemplo de vida pelo que tomavam conhecimento.

Santa Clara e mosteiro de São Damião
Vista do mosteiro de São Damião ao entardecer (Assis/Itália)

Motivava a muitos, por sua espiritualidade e vivência fiel da vocação, no seguimento de Jesus mas em sua humilde simplicidade Clara não atribui nenhum valor a si, louva a Deus que lhe concedeu a graça de viver esse carisma. Diz em seu Testamento: "Foi dessas coisas que, não por nossos méritos, mas só por misericórdia e graça de quem o deu, o Pai das misericórdias, se espalhou o perfume da boa reputação, tanto para os de longe como para os de perto" (TsSC). 

O legado que deixamos para os outros é que compõe a nossa imagem, popularmente se diz "isso é a cara de fulano", nossas atitudes revelam o nosso modo de pensar, aquilo que trazemos no mais íntimo de nós. Os muros do mosteiro não impediram que o modo de vida de Santa Clara se tornasse conhecido, pois o amor se irradia e todo o bem assume proporções inimagináveis. 


(1) 17ª Testemunha - Processo de Canonização - Irmã Bona de Guelfúcio de Assis
(2) 19ª Testemunha - Processo de Canonização - Pedro de Damião da cidade de Assis
(3)18ª Testemunha - Processo de Canonização - Senhor Rainério de Bernardo de Assis
(4) Idem
(5) 20ª Testemunha - Processo de Canonização - João de Ventura de Assis


Atualizada em 19/04/2024.

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