Corpo incorrupto de Santa Clara?

A verdade sobre o corpo de Santa Clara
Urna-relicário de Santa Clara (vista pública e vista a partir da clausura das Irmãs)

É comum às centenas de turistas e pessoas devotas que visitam anualmente a Basílica de Santa Clara (Assis/Itália) fazerem suas orações junto a Santa. Ao contrário do que muitos pensam (e divulgam) na parte superior do relicário não é seu corpo incorrupto que está lá e sim um manequim de cera que traz as medidas de tamanho e fisionomia que deveriam ser as suas ou, ao menos, aproximadas.

O manequim evoca a sua presença concreta já que os ossos, guardados sob ele, não podem ser colocados ao olhar de todos, uma vez que a luminosidade acelera a deterioração. Os restos mortais de Santa Clara (conforme a imagem acima) estão na parte inferior e são visíveis somente por de trás da urna, onde o acesso é restrito visando a conservação das relíquias. 

Clara morreu em 11 de agosto de 1253, no mosteiro de São Damião, em Assis. No dia seguinte, foi transportada, com todas as honras, inclusive com a presença da Corte pontifícia, para a Igreja de São Jorge, lugar da primitiva sepultura de São Francisco e onde, depois, se construiu a basílica dedicada a ela. Foi o Papa Pio IX que autorizou, em 1850, as escavações para se trazer à luz o corpo da Santa.

O sarcófago foi descoberto em 30 de agosto, mas foi aberto somente no dia 23 de setembro do mesmo ano, dadas as averiguações de autenticidade de que era, de fato, o da Irmã Pobre de Assis. Se decidiu então por preparar uma cripta onde todos os peregrinos pudessem venerá-lo. O trabalho levou anos para ser concluído.

Somente em outubro de 1872 o "corpo" de Santa Clara foi posto para veneração pública num precioso relicário, revestido de hábito religioso e deitado sobre um ornamentado colchão (imagem abaixo). E assim muitas pessoas o viram por mais de um século. Quando em 1986 procedeu-se a recomposição do relicário, que estava muito danificado, se descobriu também os restos mortais da Santa.

Primeira apresentação pública do "corpo" de Santa Clara
Primeira urna-relicário de Santa Clara (1872)

Os ossos estavam em avançada deterioração e o que muitos pensaram ser seu corpo em bom estado de conservação (apenas com rosto, mãos e pés escurecidos) era, na verdade, uma tela de cobre que tinha a forma do corpo com  o esqueleto em seu interior, havendo alguns ossos reconstituídos com arame e algodão e outros já decompostos.

Após meses de estudo uma equipe de especialistas (químico, ortopedista, egiptólogo, escultor) higienizou e recompôs as relíquias (deixando-as organizadas) sendo que atualmente restam apenas 57 dos 208 ossos que formam a estrutura corporal humana. A urna-relicário de Santa Clara retornou para sua Basílica no dia 12 de abril de 1987, um Domingo de Ramos.

Relíquias de Santa Clara
Detalhe da urna-relicário (vista posterior privada). Relíquias ("corpo") de Santa Clara. 

O novo relicário tem em destaque uma armação em forma de corpo (tela, gesso, esmalte, cera e silicone), cujo manequim respeita a proporção dos seus ossos, permitindo afirmar que Clara tinha 1,55m de altura, sendo revestido com um hábito simples de Clarissa. O rosto, a partir do estudo científico do crânio, reproduz a fisionomia aproximativa da Santa.

Urna-relicário de Santa Clara atual (vista pública) - Basílica de Santa Clara / Assis

O que os fatos evidenciaram é que o corpo de Santa Clara não estava intacto quando foi encontrado em 1850, dado o trabalho de recomposição que foi realizado no mesmo; mas houve a tentativa de apresentá-lo com o aspecto mais natural possível aos seus fiéis, respeitando a posição em que estava quando foi identificado. 

Infelizmente dadas as condições técnicas da época (uso de algodão e arame para envolver os ossos, substituindo inclusive os que faltavam), acabou prejudicando a conservação dos mesmos, fazendo com que os que estavam íntegros também se deteriorassem. No entanto, o corpo de Santa Clara não estar incorrupto em nada altera o reconhecimento da sua santidade, nem seu testemunho de vida.

O tempo costuma decompor a matéria, mas a vida doada a Jesus ilumina através dos séculos. Santa Clara partiu para a casa do Pai louvando ter sido criada: "Vós, Senhor, sejais bendito, pois me criastes", e isso em 1253, a mais de setecentos anos atrás, em um pequeno mosteiro fora dos muros de Assis, quando os meios de comunicação não eram tão difundidos e rápidos como os da atualidade. 

O amor é incorrupto, vai muito além da materialidade e do tempo; é um testemunho eterno. Não se desgasta, frutifica e continua vivo, transformando a existência dos que se aproximam de pessoas que assumiram, como Santa Clara, sua vocação como espelho e desejam seguir os passos de quem se encontrou com o Amor, se deixando conformar a Ele, por Ele e Nele. 



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Atualizada em  18/04/2024 

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