Santa Clara: a pioneira

Santa Clara é pioneira como fundadora de Ordem


Você sabia que Clara de Assis é uma protagonista na história da Igreja por ter sido a primeira fundadora de uma Ordem religiosa feminina? E com Regra própria, escrita por ela mesma? As Irmãs enclausuradas do seu tempo seguiam as Regras do ramo masculino e faziam as adaptações necessárias; foi assim, por exemplo, com as Agostinianas (Regra de Santo Agostinho), as Beneditinas (Regra de São Bento) e as Dominicanas (Regra de São Domingos). 

A Santa sofreu grande pressão das autoridades da Igreja para fazer o mesmo e adotar a Regra de São Bento, mas a sua determinação a fez vitoriosa, não se afastou do carisma franciscano que lhe permitia a vivência da pobreza evangélica.
Não eram simples argumentos envolvendo tradição, poder ou posição social que a convenciam. O grande espírito de autonomia e liderança de Santa Clara permitiu que ela fosse inovadora. 

Sua objetividade, sua expressiva capacidade de reflexão unida a uma profunda espiritualidade e clareza do que buscava viver não permitiu, em nenhum momento, o domínio da sociedade patriarcal em que estava inserida, fosse pelos membros da família ou da Igreja. O seguimento do Cristo Pobre apresentado por Francisco, dando especial valor a todas as criaturas e respeitando a dignidade humana era algo novo, ignorado na vida monástica da época.

Nenhuma das Ordens femininas existentes havia tido a oportunidade de conduzir sua própria trajetória, Clara (dera início a sua caminhada vocacional pelas mãos do Poverello que lhe cortara os cabelos) era a primeira mulher acolhida entre os Penitentes de Assis e relutara desde o princípio em aceitar o cargo de abadessa, pois não desejava hierarquias, mas foi obrigada por São Francisco a fim de que a comunidade existente em São Damião fosse reconhecida pela Igreja.

Uma vez que eram numerosos os movimentos heréticos que se opunham a estar sob a autoridade papal, Francisco convenceu Clara a se adequar ao que lhe era solicitado, pois a obediência é o primeiro sinal do autêntico discípulo de Jesus. Somente por essa razão ela acolheu tal título, mas escreveu em sua Regra que a função de abadessa é sinônimo de serviço, não mero exercício da autoridade. E na vida comunitária faz-se necessário que alguém seja o referencial de liderança.
  
O seu 'sim', porém, não a desviou da vida de fraternidade, que reconhecia ser um carisma recebido do Espírito do Senhor assim como para Francisco e seus Irmãos, em que prevalece a igualdade independente da origem social. Clara iguala a abadessa a mãe espiritual: "Empenhe-se também em estar a frente das outras mais pelas virtudes e bons costumes do que pelo cargo, para que, estimuladas por seu exemplo, as Irmãs lhe obedeçam mais pelo amor que por temor" (RgCL).

Firme nesta convicção, para impedir que sua obediência a algum Papa lhe fizesse mudar o que acolheu como graça nas origens do seu carisma, Santa Clara usou sua sabedoria, afamada conduta e persistência para obter o Privilégio da Altíssima Pobreza, uma renúncia à segurança material da propriedade privada (casas, terrenos), colocando sua Ordem em total dependência do Senhor e sendo coerente com a denominação que ela mesma deu à sua família religiosa: Irmãs Pobres. 

Assim diz em seu Testamento Espiritual: "E como sempre fui cuidadosa e solícita em observar a santa pobreza que prometemos ao Senhor e ao nosso bem-aventurado pai Francisco, e em fazer que fosse observada pelas outras, assim sejam obrigadas até o fim aquelas que vão me suceder no ofício a observar e fazer observar sua santa pobreza, com o auxílio de Deus" (TsCl).


Atualizada em 19/04/2024.

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