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Mosteiro anexo a Basílica de Santa Clara - Assis/Itália |
Em tempos de exacerbado utilitarismo não é com pouca desconfiança que muitas pessoas veem a vocação contemplativa na Igreja, inclusive católicos. Diante das muitas necessidades de evangelização na sociedade atual surgem questionamentos quanto o "para que" (?) da Vida Contemplativa. Poucos sabem que as Virgens Consagradas ou Virgens de Cristo foram a primeira
expressão, juntamente com os ascetas (eremitas), da Vida Consagrada na Igreja.
E também primeira manifestação de vida religiosa feminina, surgindo comunidades já
no século III, geralmente habitavam em construções unidas as capelas. Assim muitas mulheres foram contra os ditames sociais numa vida totalmente dedicada a Deus e de intercessão pela humanidade. As ordens e congregações de apostolado ativo nasceram muitos séculos depois e somente para homens (evangelizadores e missionários).
A vida oculta de Jesus em Nazaré, por pelo menos trinta anos, é uma lacuna que historiadores buscam preencher com certa ânsia; há várias expedições feitas no intuito de se encontrar respostas que não se tem na Sagrada Escritura. Também as idas do Senhor ao deserto, os momentos de oração solitária no cume dos montes e montanhas retratam um pouco do Mistério que perpassa a Vida Contemplativa.
A intimidade com o Divino só compreende quem a experimenta, pois é o extraordinário que participa no ordinário do cotidiano, que visivelmente não o altera, mas dá-lhe um sentido sobrenatural. Deixar-se envolver pelo Cristo, conduzir toda a existência num desejo crescente de conformidade com "o Verbo que se fez carne" (cf Jo 1,11), e ocupar-se Dele e não das Suas obras.
Consequentemente se edifica os outros pelos frutos da graça que daí advém, esses são alguns dos princípios que alicerçam essa Vida escondida no Sagrado. Tal como o fermento na massa, a pessoa consagrada contemplativa está profundamente ligada à Igreja e colabora pela oração, sacrifício e doação da vida para sua santidade e missão salvadora no mundo.
Santa Clara serve-nos de exemplo: uma jovem rica, inteligente, bela e com boa instrução, que descobre no Crucificado-Ressuscitado a razão da sua existência e anseia viver somente para Deus. Ousada e determinada, diante da negativa da família não se acovarda, foge. Esse viver inteiramente para Jesus é o que embasa todo o modo de agir de Clara; em tudo e, em todo o tempo, nas diversas atividades, sejam pessoais ou comunitárias,
Em tudo ela segue a pobreza, a simplicidade e o despojamento do Cristo da Cruz. Como uma esposa apaixonada pelo Esposo, segue-O de todo o coração e com todo o entendimento, seja na doença ou na saúde, nos períodos de tranquilidade ou de adversidade, como na ameaça de invasão dos sarracenos. O colocar-se na presença do Senhor exige um contexto de deserto, que favorece o silêncio e a solidão
É o encontro consigo mesmo para encontrar-se com Deus. Plena nessa experiência Santa Clara escreve à Inês de
Praga: "Feliz, decerto, é você, que pode participar desse banquete
sagrado para unir-se com todas as fibras do coração àquele cuja beleza todos os
batalhões bem-aventurados dos céus admiram sem cessar, cuja afeição apaixona,
cuja contemplação restaura,
cuja bondade nos sacia, cuja suavidade preenche, cuja lembrança ilumina suavemente, cujo perfume dará vida aos mortos, cuja visão gloriosa tornará felizes todos os cidadãos da celeste Jerusalém, pois é o esplendor da glória eterna, o brilho da luz perpétua e o espelho sem mancha" (4CtIn).
Atualizada em 04/11/2024.
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