![]() |
Acesso ao Coro do mosteiro de São Damião |
Para se bem entender a separação do mundo quanto ao corpo vivida por Santa Clara, convém voltar àquele que lhe serve como caminho por palavra e exemplo: São Francisco. Embora pregador do Evangelho, seguindo fielmente o modo de vida dos apóstolos (itinerância), ele observa com rigorosa disciplina a separação corporal em relação ao mundo, não se deixando levar pela excessiva familiaridade.
Francisco não admite a presença dos seculares nas moradias dos frades, pois não deseja que se interrompa a oração e a contemplação com conversas vãs - "boatos do mundo" -, quer para si e seus irmãos apenas a ocupação com o Ressuscitado: "E preparemos-lhe sempre dentro de nós uma morada permanente, a Ele que é o Senhor e Deus todo-poderoso" (1RgSF 22,24).
Assim Clara para ser toda de Jesus renuncia a todas as formas de dissipação e divisão de afeto. O silêncio, a solidão do claustro, resulta numa maior disponibilidade em conformar-se ao Cristo pobre, humilde e crucificado, a quem ela exorta as Irmãs a buscar sempre com amor incondicional, preferindo-O as efêmeras riquezas e alegrias do século.
Na carta a Inês de Praga lhe diz: "Por isso vos livrastes das vestes, isto é, das riquezas temporais, para não sucumbir de modo algum ao lutador e poder entrar no reino dos céus pelo caminho duro e pela porta estreita" (1CtIn). O amor ao Reino é exigente, faz-se necessário o despojamento das facilidades obtidas pela amizade com o mundo cujos valores são relativos.
A Santa a aconselha a perseverar no seguimento de Jesus, mesmo quando isso lhe traz algum aborrecimento, pois a natureza humana tem inclinação para o que lhe é agradável: "Assim, em vez dos bens terrenos e transitórios, você vai ter parte na glória do reino celeste eternamente, para sempre, vai ter bens eternos em vez dos perecedores, e viverá pelos séculos dos séculos" (2CtIn).
Num serviço sem reservas, nem limites, ao Esposo "da mais nobre estirpe", tendo por Ele tanto afeto e estima, que torna a pessoa sempre mais generosa e misericordiosa com seus irmãos e com todas as criaturas, Clara incentiva a todos a fazer-se espelho no amor e nas boas obras, sem buscar o primeiro mas colocando-se em último lugar, imitando o Rei dos reis e sua santíssima Mãe, seguindo a vontade do Pai com discrição.
Em todos os seus escritos, Clara estimula Inês de Praga (e a todos os seus seguidores) a sempre crescer em familiaridade com o Ressuscitado: "Amando-o sois casta; tocando-o, tornar-vos-eis mais limpa; acolhendo-o, sois virgem. Seu poder é mais forte, sua generosidade mais elevada, seu aspecto é mais belo, o amor mais suave, e toda a graça mais elegante" (1CtIn).
Atualizada em 11/10/2024.
0 Comentários