As Irmãs de Vida Contemplativa só rezam?
São muitos os que nos fazem essa pergunta, pois acreditam que monjas de clausura (religiosas que vivem separadas do mundo) ficam em constante oração diante do Santíssimo Sacramento, enquanto funcionários se ocupam das lidas domésticas. Na vivência do carisma da minoridade, Santa Clara, em sua Regra, aconselha as Irmãs a se manterem sadiamente ocupadas, permanecendo em comunhão com Jesus.
"As Irmãs a quem o Senhor deu a graça de trabalhar trabalhem com fidelidade e devoção, depois da hora de Terça, em um trabalho que seja conveniente à honestidade e ao bem comum, de modo que, afastando o ócio, inimigo da alma, não extingam o espírito de oração e devoção, ao qual as outras coisas temporais devem servir" (RgCl).
Dessa maneira o trabalho é uma dimensão da espiritualidade, no carisma franciscano, algo que a complementa, e não há divisão de tarefas entre as Irmãs em razão da origem social de cada uma, todas devem colocar seus dons a serviço para o bem da comunidade e a maior glória do Senhor, principalmente naqueles que demonstram maior aptidão.
Em São Damião nada era comercializado, mas apenas partilhado; ansiando viver plenamente da providência divina, Santa Clara desejava que as necessidades materiais da comunidade fossem sempre supridas pelas esmolas recebidas, vivendo com o mínimo necessário, evitando a aquisição e o consumo de coisas supérfluas. "Abrace o Cristo pobre como uma virgem pobre" (2CtIn).
Ela fazia distribuir, principalmente às igrejas mais pobres de Assis, todo o fruto da fiação (linho) que resultava em artigos litúrgicos (alfaias), para honrar o culto ao Senhor com objetos dignos. Atualmente também não se visa o lucro, mas o trabalho artesanal (confecção de velas, círios, paramentos, imagens sacras, ...) é uma das fontes de sustento do mosteiro.
Buscamos viver o que Santa Clara diz no seu Testamento: "E como sempre fui cuidadosa e solícita em observar a santa pobreza que prometemos ao Senhor e ao nosso bem-aventurado pai Francisco, e em fazer que fosse observada pelas outras, assim sejam obrigadas até o fim aquelas que vão me suceder no ofício a observar e fazer observar sua santa pobreza, com o auxílio de Deus" (TsCl).
Sem se descuidar de exortar suas Irmãs pela palavra e, principalmente, pelo exemplo, Clara de Assis, mesmo nos longos períodos em que passou acamada em razão de sua enfermidade, cuja origem se desconhece, pedia para ser recostada sobre almofadas e sempre manteve as mãos ocupadas com a fiação, mas sem nenhuma ambição por ganhos, afastando-se assim do ócio, pernicioso à alma.
É o que consta no seu Processo de Canonização: "Também sobre os corporais feitos com o que ela [Santa Clara] tinha fiado, a testemunha [Irmã Francisca /9º depoimento] disse que ela mesma tinha contado cinquenta que foram distribuídos pelas igrejas (...)". Estar a serviço do próximo também é uma forma de se manter em oração, "herdeiras e rainhas do reino dos céus, pobres em coisas, mas sublimadas em virtudes" ( RgCl).
Atualizada em 21/10/2024.
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