Úrsula Giuliani nasceu em Mercatello sul Metauro (Itália) em 27 de dezembro de 1660, num ambiente familiar profundamente religioso cuja mãe lhe incutiu grande amor ao Crucificado. Ao morrer, com apenas quarenta anos, o zelo materno lhe fez confiar as cinco filhas às Cinco Chagas de Cristo; quatro tornaram-se Religiosas.
Úrsula, aos seis anos de idade, sendo a caçula, foi consagrada a Chaga do lado, e a ela se dedicou fazendo práticas de penitências, algumas delas exageradas para uma criança, mas motivadas pelo seu ardente desejo de sofrer pelo Amor que não é amado. Desde cedo tinha sede de sacrifício e buscava imitar a história dos santos mártires que tomava conhecimento.
"O Senhor se mostrou e me pareceu que Ele estava no meio do meu coração e Sua luz divina brilhava por toda a parte. Eu o vi, na forma de uma linda criança, equilibrada e firme em meu coração. Ó Deus! Aqui não posso declarar, com a caneta, sua beleza e graça. Me roubou o coração".
Infância extraordinária
Criada num ambiente de grande religiosidade, com ativa vida sacramental e oração, além de leituras sobre as experências dos santos e de uma profunda prática de caridade, nenhum pobre que bate a porta sai de mãos vazias. E assim Úrsula aprende a nunca ser indiferente às necessidades dos outros. Certa vez ao estar contemplando a rua um mendigo parou sob a janela e lhe pediu um donativo.
Sem saber o que dar ao homem a pequenina tirou a sapatilha nova do pé e lhe lançou pela mesma; após recolhê-la o mendigo lhe diz: "Mas me dá somente uma?", sem pensar duas vezes tira a sapatilha do outro pé e lhe lança também, sem nenhum apego. Muitos anos mais tarde, em uma visão, Jesus lhe mostrará duas sapatilhas de ouro dizendo: "Aquele pobre era Eu!"
A pequena Úrsula era tão vivaz que a proximidade com o celeste a deixava ainda mais inquieta e travessa. Desde os primeiros meses de vida recebeu grandes privilégios, o que favorecia sua intimidade com o Menino Jesus e a Virgem Maria, que ganhavam vida diante dela e com quem conversava naturalmente, em imagens ou quadros. "Às vezes tinha a impressão de que as imagens não fossem pintadas mas, quer a mãe quer o filho, eu os via presentes como criaturas vivas e tão belas que me consumia de vontade de abraçá-las e beijá-las".
Proximidade que se manteve ao longo de sua vida, pois tanto Jesus como Maria Santíssima foram seus guias espirituais, ajudando Santa Verônica a vencer as armadilhas do Inimigo, que sempre lhe manifestava todo seu ódio ante seu ardor de salvar almas. No seu Diário relatou sobre um dos diálogos que teve com Nossa Senhora: "Maria Santíssima, como mãe amorosa, um dia me disse: " Filha, este meu Filho te ama tanto!"
Era o início de uma caminhada mística que a levaria aos esponsais com Cristo. Perante as imagens sacras dizia ao Pequeno: "Eu sou vossa, vós sois tudo para mim, ó querido Jesus!" E o divino Infante respondia: "Eu sou todo teu e tu és toda minha!". No seu Diário Santa Verônica narrou um encontro com o Menino Jesus, que teve por volta dos três ou quatro anos, em sua casa, e que foi marcante para sua vocação:
"(...) estava eu no jardim apanhando flores e então me pareceu ver o Menino Jesus colhendo flores comigo. Eu deixei de apanhar flores, corri para o divino Menino a fim de pegá-lo e pareceu-me que falasse assim: "Eu sou a verdadeira flor". E desapareceu. Tudo isso me deixou certa vontade de não sentir mais gosto pelas coisas deste mundo; eu estava inteiramente apaixonada pelo Menino Deus".
Com um caráter ardoroso e vivo, fazia muitos estragos, derrubava e quebrava coisas correndo para lá e para cá, querendo reencontrar-se com o Menino Jesus; passava quase todo o tempo buscando contato com o Celeste, a Santa relembrava que na sua família recebera um apelido apropriado: "Em casa todos me chamavam de "fogo", e a mãe lhe falara que durante sua gestação sentira mesmo isso: "Tu és aquele fogo que eu sentia nas entranhas enquanto estavas no meu seio".
Na idade em que as crianças ainda não costumam se aprofundar em questões de espiritualidade Úrsula já possui desejo de sofrer e recebe ensinamentos especiais de Jesus: "Estava eu na idade de sete anos e, por duas vezes, pareceu-me ver o Senhor cheio de chagas enquanto me exortava a cultivar a devoção à sua Paixão e logo desapareceu. Isto aconteceu na Semana Santa. Tudo ficou gravado em mim e não me lembro de ter, por acaso, esquecido isso".
Desde os nove anos de idade Úrsula desejava se consagrar a Deus. "Quanto mais crescia na idade maior era o desejo de ser monja. Eu o dizia mas ninguém queria acreditar e todos me contrariavam. Em particular meu pai que chegou a chorar e dizia que não queria em absoluto e, para me tirar daquele pensamento, muitas vezes convidava à casa pessoas amigas e na presença delas oferecia-me a oportunidade de folguedos , recreios e passeios".
Adolescência unida a Cristo
O desejo de Úrsula de fazer-se Religiosa não a tornava taciturna ou recolhida em todo o tempo, mantinha seu rosto risonho e sabia entreter-se com suas amigas jogando baralho e xadrez. Nos dias de carnaval gostava de brincar mascarada pelas ruas, certa vez vestiu-se com trajes masculinos e se divertiu alegremente. Despertava a atenção de todos, principalmente dos rapazes, pois tinha um semblante delicado e dote natural de inteligência, de generosidade, de dinamismo e de sensibilidade.
Uma de suas co-Irmãs que a conheceu na juventude retratou-a, por escrito, assim: "Na mocidade sua pele era alvíssima. Tinha cílios raros e louríssimos, olhos azuis, a boca pequena e risonha e o rosto amável sugerindo inocência e santidade". Aos dezessete anos vencendo as resistências do pai, que a queria desposada com um jovem da nobreza, realizou enfim sua aspiração de ser totalmente de Jesus e ingressou na Ordem das Monjas Capuchinhas em Cittá di Castelo cuja fama de austera pobreza e disciplina ainda mais lhe atraiu.
Ao iniciar o noviciado escolheu o nome de Verônica (verdadeiro ícone, verdadeira imagem), o que de fato viverá como um programa de vida, se fazendo em tudo a verdadeira imagem do Crucificado, querendo sofrer por amor tudo o que Ele sofreu; assim fez-se intercessora por todas as almas, querendo livrar a todos do mal. "Eu quero te amar e permanecer sempre no amor, para conhecer-te, para possuir-te e para tornar-me amante de ti, Amor infinito".
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