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Maria Madalena Martinengo (Itália 1687-1737) |
Mais uma das grandes místicas da Ordem das Clarissas Capuchinhas. Foi favorecida com singulares carismas e alcançou, na vivência da fé e do amor, os cumes luminosos da santidade. Nasceu na cidade italiana de Bréscia em 4 de outubro de 1687, numa família aristocrática, e recebeu o nome de Margarida. Desde criança demonstrou inclinação para a devoção e a mortificação. Aos 13 anos fez voto de virgindade contrariando sua família que desejava desposá-la com um cavaleiro.
Em 1705 (18 anos) entrou no mosteiro Nossa Senhora das Neves das Capuchinhas, na sua cidade natal, tomando o nome de Irmã Maria Madalena e, no ano seguinte, fez sua Profissão Religiosa. Logo começou a experimentar tribulações internas que se somaram as humilhações sofridas em razão das incompreensões de suas Irmãs de comunidade em razão de suas práticas piedosas.
Enfrentou esses sofrimentos unindo-se ainda mais a Jesus Crucificado, aprofundando a sua vida de oração e crescendo em humildade. Nos seus trinta e dois anos de mosteiro exerceu quase todos os ofícios da vida claustral, de cozinheira e jardineira a mestra de noviças e depois abadessa. Entre os anos de 1708 e 1711 fez um especial "voto de santidade". Numerosos e extraordinários dons místicos marcaram toda a sua vida consagrada.
Maria Madalena tinha particular devoção à coroação de espinhos de Jesus e, se descobriu, após a sua morte, que trazia sob o véu uma grade com pontas de aço ao redor da cabeça, algo humanamente insuportável de se usar mesmo por tempo brevíssimo. Mulher de vida contemplativa e de penitência, soube unir suas mortificações ao bom cumprimento dos seus deveres; o amor ao silêncio e a mansidão na conversação.
Deixou alguns escritos místicos por obediência a seu Confessor. Voltou à casa do Pai em 27 de julho (data da sua memória litúrgica) de 1737, aos 50 anos de idade. Teve uma morte serena, manifestou desejo de dormir à sua Irmã cuidadora e fez a passagem. Logo seu semblante ficou transfigurado, transmitindo uma beleza e inocência infantil. Foi beatificada em 3 de junho de 1900 pelo Papa Leão XIII. Atualmente está bem encaminhado seu Processo de Canonização.
Vida e espiritualidade
Batizada com o nome de Margarida, a nobre filha dos condes Martinengo de Barco recebe o nome da mãe, que morre cinco meses após o parto, por isso fica inicialmente aos cuidados da madrinha, até as segundas núpcias de seu pai, quando tem por volta dos quatro anos. Na infância já é singular, aos seis anos de idade gosta de leituras espirituais, especialmente o Ofício Divino e do Santo Terço: "Não me interessavam os jogos infantis, tinha toda minha alegria em ler".
Recebe instrução nas melhores escolas religiosas de Bréscia e no mosteiro das Beneditinas. Cedo distingue-se entre as colegas por suas mortificações, penitências e grande amor à oração. "Entrei no sagrado claustro para entregar-me totalmente a Deus, esvaziando meu coração de todo afeto terreno, para fazê-lo apto para escutar a voz de Deus".
Logo saída da infância tem de enfrentar muitas tentações e quando aos 13 anos faz voto de virgindade, com a permissão de seu confessor, os assaltos do demônio aumentam terrivelmente, e cresce sua aridez espiritual (vivia sem consolações celestes), não encontrando nenhum prazer em sua vida de oração. Ainda assim deseja "dar a vida entre mil tormentos pela santa fé".
Aos 16 anos vence as tentações que muitas vezes lhe faziam sentir ódio por Deus e pelos santos, a vitória é obtida "recorrendo sempre a Deus, não deixando por isto nunca a oração nem a frequência dos sacramentos". Terminada sua formação, retorna ao lar, onde o pai já se prepara para dar-lhe em casamento a algum jovem da nobreza.
Inclinada à Vida Contemplativa Margarida faz objeções aos planos do pai que, diante de sua resistência, decide fazê-la desistir de seus propósitos enviando-a para a casa do tio, em Veneza, pois almeja que entre os eventos que esta venha a participar possa encontrar o amor de sua vida. "Entre as outras virtudes, a que me enamorei desde pequena foi a pureza de coração".
Sucediam-se festas e saraus, seu tio segue os desejos paternos, fazendo-a ser admirada por todos, e não tarda surgir bons pretendentes, belos jovens, que impressionados com sua cultura e beleza enchem-na de galanteios, o que perturba seu coração adolescente. Mas se crescem as oportunidades de queda, se fortalece também seu espírito orante.
"Me bastava ler o Evangelho para me assegurar de minha vocação, da qual não tinha nenhuma dúvida". É a oração férvida e perseverante que a sustenta. Alimenta seu ardor espiritual com diligência e vigilância, pois teme ceder a fraqueza humana, assim não se deixa levar pelos elogios que recebe. Mas onde servir ao Senhor? Ser Carmelita ou ser Capuchinha? Ela mesma nos conta:
"A vocação nas Capuchinhas conheci deste modo: vi em um trono de glória a Mãe de Deus, e junto a ela a Mãe Santa Clara e Santa Teresa. Santa Teresa me oferecia seu cândido manto, dizendo que me vestiria e seria sua filha predileta. Depois Santa Clara não só me oferecia seu saial [veste de saco] mas ela mesma, com suas mãos, me vestiu, e disse a Santa Teresa:
Cede, Irmã, porque esta já está destinada desde a eternidade pelo supremo Senhor para ser minha querida e amadíssima filha. Se fará Capuchinha e observará pontualmente minha Regra. Me parecia ver que à Santa Teresa não lhe agradava a ação de Santa Clara dizendo: - Ela sempre desejou vestir meu hábito e não o vosso.
E isto era verdade, porque desde pequena me agradavam as Carmelitas, e se eu me atrevesse teria dito a grande Mãe de Deus que mais me agradava o manto branco que o austero saial, porque eu das Capuchinhas não sabia nada. Me disse então a suprema Rainha: - Filha, não Carmelita, sim Capuchinha te quer o meu Filho. Ao ouvir esta resolução as duas santas de deram um abraço apertado. E terminou a visão".
Sem poder contar com nenhum apoio humano, pois tanto a família quanto seu orientador espiritual tem desconfiança de seus elevados propósitos de santidade, Margarida vai ao mosteiro das Clarissas Capuchinhas de sua cidade, Santa Maria das Neves, e se apresenta como vocacionada, mas sempre resistindo ela mesma em seu interior em fazer-se Capuchinha, "porque lá não poderia fazer caridade".
Mas tão decidida está em fazer a vontade de Deus que não se prende ao seu querer, por mais nobre que lhe pareça. "Quero fazer-me santa!". Assim abre o coração ao pai e com terna firmeza lhe diz: "Verá, senhor pai, que eu serei o consolo de toda a família". O que o tempo revela ser uma verdadeira profecia, pois muitos de seus familiares irão ao mosteiro buscar seus conselhos.
Após os oito dias de exercícios espirituais propostos a todas as candidatas a vida de clausura Capuchinha, Margarida, já na condição de postulante, formula seu propósito de vida que lhe servirá como um raio de luz no cumprimento da sua vocação: "Ou Religiosa perfeita ou nada, este é meu único intento, não havendo me agradado nunca aquelas Religiosas medianas que amam a Deus, sim, porém com um coração dividido".
Os mesmos diretores espirituais que antes haviam contradito sua vocação, agora a apoiam dizendo que deve se fazer santa. Aos 18 anos ingressa no mosteiro, é a festa da Natividade de Maria Santíssima, recebe o nome de Maria Madalena e tal como a Mãe de Jesus e sua apaixonada discípula, deseja viver sua missão com responsável empenho e misericórdia.
A jovem Madalena tem Cristo como centro de toda a sua espiritualidade, é totalmente cristocêntrica, de tal maneira é guiada pela graça que ainda na etapa formativa do noviciado recebe os estigmas do Crucificado, devido a sua real conformidade com Ele. Mas como isso afeta seu aspecto físico a comunidade a tem por enferma e decide mandá-la de volta para casa.
Como não era esse o desígnio divino, mesmo as Irmãs lhe sendo contrárias, na votação para sua profissão, foi acolhida na comunidade por unanimidade, o que provocou espanto em todas, pois foram votar com outra intenção, e segundo a Beata Maria Madalena deu-se a revelação da verdade: "Sua divina majestade manifestou, também Ele, sua vontade, iluminando a mente de suas esposas".
No entanto, Maria Madalena não vive apenas de grandes elevações místicas, pelo contrário, acentua em seu cotidiano um profundo e humilde realismo, adquire costumes onde o rigor da ascese e da abertura fraterna são sustentados e complementados. Faz sacrifícios inimagináveis por amor a Jesus, como colocar cruz com pregos sob os pés, sem manifestar nenhum sinal de desconforto.
Sendo oriunda da nobreza busca, em todo o tempo, não ser tratada com nenhuma distinção e coloca-se a disposição da comunidade para ser útil em todas as funções; dando tudo de si mesma trabalha com afinco e fidelidade assumindo os serviços mais difíceis e pesados. Faz de tudo um ofertório de amor reparador para Jesus e para o bem das almas.
Porém o trabalho que mais lhe causa admiração e lhe apaixona é o trabalho da vida interior, o qual chama "o cultivo do próprio interior", onde se deve "deixar que o Senhor trabalhe a seu modo". Uma tarefa que não a torna ausente do mundo circundante, nem do contato com suas Irmãs, pois como diz em seus escritos citando a vida comunitária: "tenho a esta, particular devoção".
Nos momentos de recreio faz-se igual a todas as outras não aceitando nenhuma deferência em razão de sua linhagem; em certa ocasião, interrogada por uma Irmã de comunidade a respeito disso, somente respondeu com simplicidade: "Quando somos Capuchinhas, não se é mais que isto". Encerrando o assunto com singela humildade e revelando sua nobreza de alma.
Após participar dos momentos de oração comum Maria Madalena continua como que toda imersa em Deus, absorvida por sua comunicação com o divino que a atrai continuamente: "Minha disposição ao levantar-me é que, estando todas as minhas faculdades mergulhadas em Deus, não tenho que fazer muito para uni-las e fundi-las Nele".
Com a vida sempre em tão perfeita sintonia com Deus, algo realmente sobrenatural, uma graça extraordinária, visto que os sentidos e inclinações naturais não lhe oferecem nenhum obstáculo, a beata Martinengo revela que seus momentos de oração são contínuos: "Minha oração não tem nunca princípio porque não tem nunca fim, vivo sempre unida a Deus em meu interior".
Nem mesmo os momentos de trabalho a fazem se dispersar dada a sua elevada comunhão com o divino: "Uma vez que saimos do Coro na manhã, as nove e meia, se chama a sala de trabalho, onde se trabalha segundo a obediência que todas temos... Eu passo este tempo sempre unida com Deus em meu interior e procuro trabalhar com fidelidade e rapidez".
Nosso espelho: Beata Maria Madalena Martinengo - Para se viver, no cotidiano, uma espiritualidade inspirada na mística da Beata Madalena Martinengo, convém ter por princípio o forte desejo de comunhão com o divino, direcionando todas as ações do dia em busca de uma maior, e melhor, sintonia com a vontade Deus. Além de uma vigilante escuta das inspirações do Espírito Santo; e isto requer contínua aprendizagem do ser discípulo(a).
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