Bula que autoriza o Processo de Canonização (Basílica de Santa Clara - Assis/Itália)
(...) a senhora Clara referiu às Irmãs que, quando sua mãe a estava esperando, foi à igreja e, estando diante da cruz a orar atentamente, pedindo a Deus que a socorresse e ajudasse no perigo do parto, ouviu uma voz que lhe disse: "Parirás uma luz que vai iluminar o mundo". (3)
(...) enquanto esteve no século na casa de seu pai; era tida por todos como pessoa de grande honestidade e de vida muito boa; e que se dedicava e ocupava com as obras de piedade. (1)
A testemunha era sobrinha carnal da santa, a quem tinha como mãe. (...) ela tinha o conjunto de todas as virtudes: a mais alta virgindade, a benignidade, a mansidão, a compaixão para com suas Irmãs e para com os outros. (4)
Da conversão e vida no mosteiro
E disse que Santa Clara, por exortação de São Francisco, começou a Ordem que agora está em São Damião e que ela aí entrou virgem e assim virgem permaneceu para sempre. Interrogada sobre como sabia dessas coisas, respondeu que, quando estava no século, era sua vizinha e meio parente, uma vez que entre a sua casa e a da virgem Clara não havia nada senão a praça e que muitas vezes a testemunha se entretinha com ela. (1) E disse que a senhora Clara amava muito os pobres; e por seu bom proceder, todos os cidadãos tinham-na em grande veneração. (1)
A testemunha disse também que a senhora Clara, depois de ter estado três anos na Religião [Vida Religiosa], recebeu o governo das Irmãs a pedido e por insistência de São Francisco, que praticamente a obrigou. Interrogada sobre como sabia disso, respondeu que estivera presente. (1)
(...) disse que, desde que a madre Santa Clara entrou na Religião, foi de tanta humildade que lavava os pés das Irmãs. Além disso (...) derramava água nas mãos das Irmãs e de noite cobri-as por causa do frio. (2)
E de fato bela foi diligentíssima na exortação e no cuidado das Irmãs, sendo compassiva com as doentes. Era solícita no serviço delas, submetendo-se humildemente até as últimas serviçais, desprezando sempre a si mesma. (6)
Da vida de oração e penitência
(...) a bem aventurada madre Clara passava tantas noites acordada em oração e fazia tantas abstinências, que as Irmãs ficavam com pena e se lamentavam; e disse que ela mesma tinha chorado por causa disso algumas vezes. Interrogada sobre como sabia disso, respondeu: “Porque vi quando dona Clara estava deitada no chão, com a cabeça numa pedra do rio e a escutava quando estava em oração”. (1)
E quando saía da oração, exortava e confortava as Irmãs, dizendo sempre palavras de Deus, que estava sempre em sua boca, pois não queria falar nem ouvir sobre coisas vãs. (1)
A qual, mesmo quando estava gravemente doente, nunca quis deixar suas orações costumeiras. (2)
A testemunha também disse que a bem aventurada Clara uma vez mandou fazer uma certa veste de couro de porco e a usava com os pelos e pelugens cortadas junto da carne; e a levava escondida embaixo da túnica de pano rude. (2)
Era assídua na oração e na contemplação. Quando saía da oração, seu rosto parecia mais claro e mais bonito que o sol e suas palavras exalavam uma doçura inenarrável, tanto que sua vida parecia toda celestial. (4)
Rezava com muitas lágrimas, mas com as Irmãs demonstrava uma alegria espiritual. Nunca estava perturbada. (6)
Jamais quis perdoar seu corpo; antes, foi, asperíssima em sua cama e em suas roupas; e no comer e beber era estritíssima, tanto que parecia levar uma vida de anjo, (...). (6)
E disse que sempre viu dona Clara comportar-se em grande santidade. "Em muita mortificação de sua carne e muita aspereza da vida". (8) Interrogada em que consistia essa santidade e bondade, respondeu que estava na sua grande humildade, na benignidade, honestidade e paciência. (8)
Do trabalho
(...) quando mandava às Irmãs que fizessem alguma coisa, fazia-o com muito respeito e humildade e, a maior parte das vezes, preferia fazer ela mesma em vez de mandar as outras. (1)
Também disse que, depois que ela ficou doente de não poder levantar-se da cama, fazia com que a erguessem para ficar sentada e sustentada com alguns panos por trás das costas e fiava, tanto que com o seu trabalho fez confeccionar corporais e os enviou para quase todas as igrejas da planície e dos montes de Assis. Interrogada sobre como sabia dessas coisas, respondeu que a viu fiando e fazendo o pano e quando as Irmãs os costuravam e eram mandados por mãos dos frades às sobreditas igrejas, e eram dados aos sacerdotes que lá apareciam. (1)
(...) a bem-aventurada madre era humilde, benigna e amável para com suas Irmãs, e tinha compaixão das doentes; e que enquanto ela teve saúde servia-as e lhes lavava os pés (...) e algumas vezes lavava as cadeiras das enfermas. (1)
Da pobreza
Dos milagres
- O milagre do azeite
A testemunha também disse que a vida da predita bem-aventurada Clara foi cheia de milagres. Pois uma vez, tendo faltado azeite no mosteiro, como não tinham mais nada, a bem-aventurada madre chamou um frade da Ordem dos Menores que ia pedir esmolas para elas, chamado Frei Bentevenga, e lhe disse que fosse procurar azeite. Ele respondeu que lhe preparassem o vasilhame. Então dona Clara tomou um vaso, lavou-o com suas próprias mãos e o colocou sobre uma mureta que ficava perto da saída da casa para que o frade a pegasse.
E tendo esse vaso ficado ali por uma horinha, quando o Frei Bentevenga foi procurá-lo, encontrou-o cheio de azeite. Investigaram diligentemente e não descobriram quem o tinha colocado. Interrogada sobre como sabia disso, respondeu que estava em casa e viu quando a senhora levou o vaso vazio e o trouxe cheio. E dizia que não sabia quem o podia ter enchido, nem como tivesse sido enchido. E Frei Bentevenga dizia a mesma coisa. (1)
- A queda do portão
(...) tendo caído em cima de dona Clara um portão do mosteiro, que era muito pesado, uma Irmã, chamada Irmã Angelúcia de Espoleto, chamou forte, temendo que a tivesse matado, pois sozinha ela não podia levantar aquele portão, que estava inteiro sobre a senhora. Por isso a testemunha e outras Irmãs correram: e a testemunha viu que o portão ainda estava em cima dela, e era tão pesado que só três frades o puderam levantar e recolocar no lugar. Apesar disso, a senhora disse que não lhe havia feito nenhum mal, mas tinha estado em cima dela como se fosse uma coberta. (5)
- Cura das Irmãs enfermas com o sinal da cruz
(...) uma vez estando doentes cinco Irmãs no mosteiro, Santa Clara fez sobre elas o sinal da cruz com a sua mão, e imediatamente ficaram todas curadas.
E muitas vezes, quando alguma das Irmãs tinha alguma dor na cabeça ou em alguma outra parte do corpo, a bem-aventurada madre as livrava com o sinal da cruz. (1)
Interrogada sobre as palavras que a santa dizia, respondeu que pôs a mão sobre ela e pediu a Deus que, se fosse melhor para sua alma, a libertasse daquela doença [hidropisia]. E assim foi subitamente libertada.(4)
- Como libertou um frade de insânia
Tendo ficado doente de insânia um certo frade da Ordem dos Frades Menores, que se chamava Frei Estêvão, São Francisco mandou-o ao mosteiro de São Damião, para que Santa Clara fizesse sobre ele o sinal da cruz. Quando o fez, o frade dormiu um pouco no lugar onde a santa madre costumava rezar; depois, quando acordou, comeu um pouco e foi embora curado. (2)
- Da libertação do mosteiro e da cidade de Assis da invasão dos sarracenos
(...) no tempo da guerra de Assis, tendo alguns sarracenos subido ao muro e saltado na parte de dentro do claustro de São Damião, a referida santa madre dona Clara que estava gravemente enferma, levantou-se da cama e mandou chamar as Irmãs, confortando-as para que não tivessem medo. (2)
(...) a santíssima madre confortava a todas elas e fazia pouco caso das forças deles, dizendo: "Não fiquem com medo. Eles não nos podem fazer mal". E dito isso, recorreu ao auxílio da costumeira oração. (3)
(...) tendo os sarracenos entrado no claustro do mosteiro, a senhora [Clara] pediu que a carregassem até a porta do refeitório e pusessem diante dela uma caixinha onde estava o santo Sacramento do Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Prostrou-se por terra em oração e orou com lágrimas, dizendo estas palavras entre outras: "Senhor, guardai Vós estas vossas servas, porque eu não as posso guardar". Então a testemunha ouviu uma voz de maravilhosa suavidade, que dizia: "Eu te defenderei para sempre!". Então a senhora orou também pela cidade, dizendo: "Senhor, que vos apraza defender também a esta vossa cidade". A mesma voz soou: "A cidade sofrerá muitos perigos, mas será defendida". Então a senhora se voltou para as Irmãs e lhes disse: "Não fiquem com medo, porque eu sou a sua garantia de que não vão passar nenhum mal, nem agora nem no futuro, enquanto se dispuserem a obedecer aos mandamentos de Deus". Os sarracenos foram embora sem fazer mal ou causar prejuízo.
Interrogada sobre que outras Irmãs ouviram a voz, respondeu que a ouviram a testemunha e uma outra Irmã, que já morreu, pois elas estavam sustentando a senhora [Santa Clara].
E Santa Clara chamou as duas naquela tarde e disse para não contarem isso a ninguém, enquanto ela estivesse viva.(9)
- A refeição milagrosa
(...) um dia as Irmãs só tinham meio pão, pois a outra metade tinha sido mandada aos frades que estavam ali fora. A senhora mandou a testemunha que cortasse cinqüenta fatias e as levasse para as Irmãs, que tinham ido para a mesa. Então a testemunha disse a dona Clara: "Para tirar cinqüenta fatias disto seria necessário aquele milagre do Senhor, dos cinco pães e dois peixes". Mas a senhora respondeu: "Vá fazer o que lhe disse". E o senhor multiplicou aquele pão de modo que rendeu cinquenta fatias boas e grandes, como Santa Clara tinha mandado. (6)
- A libertação demoníaca
A testemunha também disse que ouviu de uma mulher que o Senhor a tinha libertado de cinco demônios pelos méritos da santa. Interrogada de onde era essa mulher, respondeu que ela mesma dizia que era de Pisa, e viera ao lugar do mosteiro onde se fala às Irmãs, para dar graças a Deus e à santa. (...) E a mulher dizia que os demônios bradavam: "As orações dessa santa nos queimam". (7)
Da enfermidade de Santa Clara
Interrogada desde quando tinha começado essa longa enfermidade de Santa Clara respondeu que se pensava que fossem vinte e nove anos. (1)
Experiências espirituais extraordinárias
(...) no dia da festa de primeiro de maio, a testemunha viu no colo da senhora Clara, diante do seu peito, um bebê belíssimo, tanto que não daria para expressar sua beleza. Só de vê-lo, sentia uma indizível suavidade de doçura. Ela não duvidava de que fosse o Filho de Deus.(9)
(...) estando dona Clara prestes a passar desta vida, isto é, na sexta-feira imediatamente antes de sua morte, disse à testemunha, que tinha ficado sozinha com ela: "Estás vendo o Rei da glória, que eu estou vendo?". Disse isso várias vezes e expirou poucos dias depois. (4)
Atualizada em 31/01/2025.
0 Comentários