A busca da vocação, do encontrar o 'seu' lugar no mundo dá-se, primeiramente, com um período de inquietação, de questionamentos quanto à vontade de Deus e a relação desta com os próprios sonhos, as expectativas de realização pessoal.
O caminho nem sempre é claro, muitas vezes requer um longo período de escuta, de perguntas e respostas, que por vezes exigem auxílio de um conselheiro ou orientador espiritual.
Para Clara não foi diferente, ela sabia o que não queria (um matrimônio rico, a manutenção do status social da família, construir um mosteiro e fazer-se abadessa), mas ainda não tinha clareza de qual caminho seguir para dar-se inteiramente ao Cristo Pobre e Crucificado na forma que ansiava. Todos as formas de Vida Religiosa existentes não lhe eram satisfatórias.
Sabe-se que desde os doze anos, idade em que as meninas eram estimuladas a se preparar para o casamento, Clara já vive uma vida de ascese domiciliar; diz uma das testemunhas do Processo de Canonização que "estava sempre em casa. Ficava escondida, porque não queria ser vista, de maneira que os que passavam na frente da sua casa não a enxergavam. Também era muito benigna e se dedicava às outras boas obras" (ProcC 17Ts).
Clara, que já deseja uma profunda conversão, mesmo sendo tão jovem, veste cilício sob as vestes nobres e priva-se de uma alimentação farta e que satisfaça os sentidos, partilhando-a com os mais necessitados. Anseia corresponder aos desígnios de Deus renunciando a própria vontade e vencendo seus apegos e vaidades, a que a natureza humana tão facilmente se inclina.
O modo de vivência do Evangelho apresentado por Francisco, em que imita os apóstolos e exalta a fraternidade universal, o amor à pobreza e a minoridade lhe desperta a atenção. Em 1210, quatro anos após a conversão do Pobrezinho de Assis quando ele prega na Catedral de São Rufino, próximo a residência de Clara, é possível que ela esteja presente. Uma de suas características é a escuta atenta que transforma a Palavra em vida, valorizando os ensinamentos dos pregadores.
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Catedral e Praça de São Rufino (Assis/Itália) |
É a partir desse período que Clara começa a ir aconselhar-se com ele, segundo conta a mesma testemunha, Bona de Guelfúcio, leiga, que vivia em sua casa: "a testemunha foi muitas vezes com ela conversar com São Francisco, e ia secretamente para não ser vista pelos parentes. (...) sempre lhe pregava que se convertesse a Jesus Cristo, e Frei Filipe fazia o mesmo. E ela os ouvia de boa vontade e concordava com as coisas boas que lhe eram ditas" (ProcC 17Ts).
Francisco, nessa época, já goza da fama de santidade e a jovem o tem como guia espiritual, pois nele une-se a teoria e a prática do Evangelho, é um cristão autêntico, e assim Clara discerne sua vocação. Seu primo Rufino já se tornara um dos companheiros do Poverello, e isso já devia gerar muitos comentários entre seus familiares, pois o jovem abrira mão da riqueza para fazer-se pobre, o que já provoca a antipatia da nobreza por esse novo movimento religioso.
Atualizada em 13/02/2025.
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