Escultura em bronze de São Francisco próxima a São Damião, contemplando a cidade.
"Altíssimo e glorioso Deus, iluminai as trevas do meu coração e dai-me uma fé direita, esperança certa e caridade perfeita, bom senso e conhecimento, Senhor, para que faça vosso santo e veraz mandamento" (Oração de São Francisco).
É com Francisco que Clara tem a certeza do caminho a seguir, confia nele como um instrumento seguro da graça divina. Mas o que Clara encontra em São Francisco? Um ser humano transfigurado pelo amor de Deus. Trocara a ambição de ser cavaleiro de um senhor humano para ser arauto do grande Rei, abandonara todas as seguranças seculares (a família, os bens, os amigos) para ser filho unicamente do Pai Nosso.
Longe do comércio o filho de Pedro Bernardone descobrira a alegria e a liberdade de viver, pobre e humilde, o Evangelho como Jesus ensinara aos seus apóstolos. Levando a Boa Nova a todos, confiante na providência do Pai e sem preocupar-se com o que comer e com o que vestir, o Pobrezinho de Assis redescobre o que é ser cristão na autenticidade.
Francisco vive enamorado do Deus misericordioso que se fez homem para libertar a humanidade da escravidão do pecado, fazendo-se vítima de sacrifício, aceitando a morte de cruz para tornar todos irmãos. É neste reflexo do Cristo Crucificado que Francisco se tornara que Clara encontra sua própria vocação, há de servir o Senhor seguindo seus passos, em alegre fraternidade.
Por ser mulher Santa Clara vê-se obrigada a abrir mão do sonho de anunciar o Salvador até os confins da Terra, não pode tornar-se missionária entre os sarracenos e assim derramar seu sangue pelo Reino, como os frades. A missionariedade da sua vocação nasce e se difunde pelo poder transformador da oração; o fazer-se presença sem, no entanto, sair do mosteiro: pelo louvor, pela súplica e pela intercessão.
O fazer-se irmãs na vida monástica faz do novo carisma uma forma inovadora de viver o santo Evangelho, pois não preza a hierarquia mas a fraternidade. E esse é o caminho a que ela se sente chamada. O desafio de unir pessoas de diferentes classes sociais, sob o desejo de amar e servir a Deus, através da comunhão de fé e esperança, deu nova luz à caminhada espiritual dessa mulher.
Santa clara tem em São Francisco um seguro orientador espiritual a quem ela chama de pai, é um amor purificado das afetividades humanas. Jesus ocupa o centro, é o Amado em ambos os corações. Assim ela diz em seu Testamento: "O Filho de Deus fez-se para nós o Caminho, que nosso bem-aventurado pai Francisco nos mostrou e ensinou por palavra e exemplo, ele que o amou e seguiu de verdade" (TestCl).
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Escultura em bronze: São Francisco e Santa Clara de Frei Silvio Bottes |
E Francisco tinha grande confiança na vida orante de Santa Clara, sendo que "tendo ficado doente de insânia, um certo frade da Ordem dos Frades Menores, que se chamava Frei Estevão, São Francisco mandou-o ao mosteiro de São Damião, para que Santa Clara fizesse sobre ele o sinal da cruz. Quando o fez, o frade dormiu um pouco no lugar onde a santa madre costumava rezar; depois, quando acordou, comeu um pouco e foi embora curado" (ProcC2,15).
O carisma franciscano inova e renova a Igreja, sem, no entanto, ir contra ela, pelo contrário, busca as bênçãos do Papa e se coloca em filial obediência, evidencia os equívocos do Clero e assim faz com que novamente se volte aos ensinamentos do Evangelho; prioriza a humildade, a pobreza e a minoridade, desprestigiando o poder e as riquezas temporais, mas sem colocar-se contra os ricos. E dá novo vigor ao seguimento do Cristo pobre e crucificado que ensina a acolher a todos.
Atualizada em 13/02/2025.
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