Beata Ângela Astorch

Clarissas Capuchinhas
Memória Litúrgica: 02 de dezembro


Mais um grande testemunho de fé e santidade da Ordem das Monjas Capuchinhas. Teve um despertar precoce para a vocação claustral e muito cedo as
manifestações divinas em sua vida chamaram a atenção de quem participava de seu convívio. Com fácil comunicação com o Celeste passou por grandes provações de purificação e crescimento em sua santidade, pois buscava em tudo satisfazer a vontade de Deus.

Vida e espiritualidade

Jerônima Maria Inês Astorch nasceu no dia 1º de setembro de 1592, em Barcelona, em uma família bem situada socialmente. Ficou órfã de mãe aos dez meses de vida e de pai aos cinco anos, e passou a demonstrar uma maturidade precoce aos sete anos, após ser dada por morta em razão de um envenenamento acidental por ingestão de uma planta. Retornou a vida misteriosamente.

Em suas memórias escreveu que seu renascimento se deu pela intercessão da beata madre Ângela Pratt, que viu quando a Virgem Maria devolveu a sua pequena alma ao corpo. Essa referida Madre lhe deu seu próprio nome quando a jovem Jerônima Maria Inês ingressou no Mosteiro das Clarissas Capuchinhas em Barcelona, com apenas onze anos de idade. Muitos duvidavam de sua vocação, achando que ela apenas queria ficar junto de sua irmã. 

A jovem formanda logo despertou encantos e ciúmes, pois tinha um comportamento de pessoa adulta, sua postura não correspondia à sua idade, e o dom da ciência infusa, o que lhe permitia compreender e falar perfeitamente o latim mesmo sem ter domínio do idioma, sendo por isso criticada por exibicionismo; além de saber onde se encontravam todas as citações bíblicas que lhe eram perguntadas.

A primeira mestra foi desastrosa por ser imatura sendo substituída por sua irmã de sangue Isabel Astorch, de reconhecida santidade. Assim relata a beata Ângela: "Ela organizou o noviciado de modo que cada uma das noviças soubesse o que fazer. Depois ensinou a oração, a meditação, os exames de consciência, a presença de Deus, a mortificação interior e exterior, e como cada uma deveria retirar a sua própria vontade e ser mestra de si mesma neste ponto, ...".

"As mortificações que ela lhes disse deveriam ser realizadas através de atos amorosos e, se a contradição fosse grande, através de atos e resoluções violentas... Trazer Deus presente e, na  sua presença, ser humilde, obediente e paciente suportando as condições de cada uma e das outras. E ser muito devota da Virgem e de alguns santos...".

Por ter ingressado tão jovem (onze anos) seu período de formação tornou-se longo, pois no seu mosteiro se proibia profissão antes dos dezoito anos, isso aumentava seu desejo de pertença ao Senhor e intensificava sua ascese e a consciência de ser responsável por seu crescimento humano e espiritual. Assim tomou por advogado e guia o evangelista São João e denominou tal período como 
"A primavera do meu espírito".

"Professei com sumo gosto e grandes resoluções de ser santa e alma de oração". Ângela sempre buscou crescer em humildade e conhecimento de Deus, para isso colocava-se a serviço de todas as Irmãs e dedicava-se à leitura, fazendo muitas mortificações interiores e exteriores, além das obrigações comunitárias. "Eu queria muito ser uma Irmã de obediência para uma maior paz na religião". 

Foi enviada para uma fundação em Saragoza como mestra de noviças com apenas vinte anos de idade. Destacando-se por seu discernimento logo foi eleita abadessa, governando a comunidade com muita bondade e sabedoria. Por seu testemunho de fidelidade na vivência do carisma e generosidade, foi escolhida para fundar um Mosteiro em Múrcia (1645), onde viveu até sua morte em dois de dezembro de 1665.

Capela do mosteiro de Múrcia (Espanha)

Durante o Ofício Divino (Liturgia das Horas) que os Religiosos de Vida Contemplativa rezam louvando ao Senhor ao longo das horas do dia e da noite, a Beata Ângela tinha experiências de profunda intimidade com Jesus e a Virgem Maria; recebia alocuções interiores e se via salmodiando com os Anjos, por isso, em sua beatificação (maio de 1982) mereceu o título de "Mística do Breviário"¹ pelo papa São João Paulo II. 

Durante o Ofício da festa dos Anjos da Guarda, no ano de 1642,  ouviu em seu interior a voz do Senhor que lhe dizia: "A Igreja Militante e a Triunfante são uma só. E sendo assim podes desafiar os Anjos em amar-Me e louvar-Me", o que a mesma respondeu positivamente: "(...) as duas Igrejas são a mesma, não há razão para que só eles te louvem". Desde então salmodiava ainda com mais atenção e amor, querendo rivalizar com os Anjos, conforme a vontade de Jesus.

Perguntada por seu Confessor sobre esse desafio explicou que o mesmo se dava em cantar os louvores divinos com alegria e pureza de coração, devendo imitar os anjos tanto no amor quanto na veneração, assim como lhe era possível em razão da sua indignidade, oferecendo-os como perfumes à Santíssima Trindade, colocando-os como incenso no turíbulo do sagrado Coração de Jesus, seu Senhor e Redentor.

Entre essas belas e sobrenaturais alegrias, a bem-aventurada teve grandes combates, muitas provações físicas e espirituais, sofreu com a aridez e as "noites escuras" a que chamava de "purgatório interior". No entanto, a tudo acolhia com fortaleza e amor esponsal, sendo agraciada com muitos dons espirituais; nas dificuldades com as Irmãs, dadas as limitações e fraquezas humanas, suportava com humildade, respondendo às desobediências e ingratidões com misericórdia e perdão.

Na Eucaristia e na Oração Litúrgica encontrava forças para não se deixar abater, tornando sua alma sempre mais agradável a Deus. Narrou suas experiências místicas em suas Memórias, escritas por obediência aos seus confessores. É bela a visão que teve da Igreja: "(...), tive uma visão intelectual de minha Mãe Igreja em figura de uma mulher lindíssima, vestida de branco e cercada de resplendores brancos como de sol. Seu rosto era branquíssimo, o cabelo de sua cabeça era liso.

Minha alma a olhava amorosa e ternamente, e ela a mim com rosto suave e olhar gentil; ela me fazia crescer em pureza no íntimo de minha alma e uma proximidade tão grande que solicitava a minha alma lhe dar um terno e carinhoso abraço... Eu fiquei com afetos de uma particular estima de ver-me filha da Igreja, e como que unida aos seus profundos tesouros". 

O milagre da beatificação

Ângela Astorch foi declarada Venerável em 1850. O fato miraculoso apresentado para sua beatificação se deu em 1878, uma graça alcançada pela jovem Carmela Hidalgo que teve a recuperação de periostite crônica e o aparecimento de uma terceira dentição completa e perfeita. Nesse caso o milagre era inquestionável, ainda assim o processo foi lento e complexo, ficando arquivado por décadas. A beatificação só se deu em 23 de maio de 1982.

(1) Breviário: livro contendo leituras e salmos da Sagrada Escritura e orações para determinadas horas do dia e da noite, que sacerdotes e Religiosos devem recitar ou cantar todos os dias.


Atualizada em 04/02/2025.

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