
No destaque construção original. O vitral e os arcos são posteriores.
Em 1207, um ano após sua conversão, vestido com hábito de eremita, Francisco dedica-se a reconstruir as capelas abandonadas, e em péssimo estado, dado compreender ser isto o que Cristo espera dele, segundo o que escutou do Crucificado: "Francisco, vai e reconstrói a minha Igreja que cai em ruínas", no ícone (crucifixo) dentro da igreginha de São Damião, existente fora dos muros de Assis.
E é enquanto a restaura, que inspirado pelo Espírito Santo, Francisco, sem companheiros e discernindo seu caminho vocacional, já profetiza sobre o futuro ramo feminino de sua Ordem ainda inexistente, fala alto em francês, para alguns pobres que viviam ali perto: "Vinde ajudar-me na obra do mosteiro de São Damião: nele virão morar umas senhoras por cuja vida famosa e santa dar-se-á glória ao Pai celestial em toda a Igreja" (TestC).
Nesse período Clara tem por volta dos 14 anos, é uma adolescente em busca de uma resposta ao seu anseio vocacional: quer servir ao Senhor mas não tem clareza de como e de onde realizar o seu chamado. Conhece a forma de serviço religioso feminino reconhecido pela Igreja: a vida monacal e a virgindade consagrada (leiga), sendo permitida a vivência na família.
Essa duas maneiras de consagração não preenchem seus anseios, por isso espera, com uma vida de oração, jejum e caridade, os desígnios do Senhor. Embora saiba que os planos familiares sejam de arranjar-lhe um bom pretendente e lhe dar em matrimônio, torna evidente seu desejo de deixar as coisas do mundo, manifestando seu desprezo pelas vaidades do século.
Sua santidade já se faz conhecida, mesmo vivendo no escondimento de sua casa, pois "era tida como virgem no ânimo e no corpo e era tida em muita veneração por todos quantos a conheciam, mesmo antes de entrar na Religião [mosteiro]. E isso era pela sua muita honestidade, benignidade e humildade", assim conta a 2ª testemunha do seu Processo de Canonização Irmã Benvinda (ProcC2Ts).
Já no final de sua existência em São Damião Clara registra no seu Testamento e na sua Regra o quanto lhe foi valiosa a profecia de seu bem-aventurado Pai Francisco: "Por isso, queridas Irmãs, devemos considerar os imensos benefícios que Deus nos concedeu, mas, entre outros, aqueles que Ele se dignou realizar em nós por seu dileto servo, nosso pai São Francisco, não só depois de nossa conversão, mas também quando estávamos na miserável vaidade do mundo (TestC).
Pois, quando o santo, logo depois de sua conversão, sem ter ainda irmãos ou companheiros, estava construindo a igreja de São Damião, em que foi visitado plenamente pela graça divina , e foi impelido a abandonar totalmente o mundo, numa grande alegria e iluminação do Espírito santo, profetizou a nosso respeito aquilo que o Senhor veio a cumprir mais tarde" (TestC).
Ao fazer memória da profecia de São Francisco Clara como que atesta, e confirma, que todo o seu seguimento foi fruto da inspiração divina, a que ela buscou corresponder sempre com ardente fé e amor, almejando ser fiel em cada novo dia. "Nisto nós podemos considerar, portanto, a copiosa bondade de Deus para conosco, pois, em sua imensa misericórdia e amor, dignou-se contar essas coisas sobre nossa vocação e eleição, através do seu santo" (TestC).
Atualizada em 13/02/2025.
0 Comentários